XXII – Da boa e da má fortuna
É sem razão, e é sem merecimento,
Que a gente a sorte maldiz:
Quanto a mim, sempre odiei o sofrimento,
Mas nunca soube ser feliz...
XXIII – Dos nossos males
A nós nos bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...
XXV – Da paz interior
O sossego interior, se queres atingi-lo,
Não deixes coisa alguma incompleta ou adiada.
Não há nada que dê um sono mais tranqüilo
Que uma vingança bem executada...
XXVI – Da mediocridade
Nossa alma incapaz e pequenina
Mais complacência que irrisão merece.
Se ninguém é tão bom quanto imagina,
Também não é tão mau como parece.
XXVII – Do espírito e do corpo
O espírito é variável como o vento,
Mais coerente é o corpo, e mais discreto...
Mudaste muita vez de pensamento,
Mas nunca do teu vinho predileto...
XXVIII – Do “Homo Sapiens”
E eis que, ante a infinita Criação,
O próprio Deus parou, desconcertado e mudo!
Num sorriso, inventou o homo sapiens, então,
Para que lhe explicasse aquilo tudo...
XXX – Do eterno mistério
“Um outro mundo existe... uma outra vida...”
Mas de que serve ires para lá?
Bem como aqui, tu’alma atônita e perdida
Nada compreenderá...
XXXI – Da pobre alma
Como é que hás de poder, ó Alma, devassar
Essas da pura essência invisíveis paragens?
Tu que enfim não és mais do que um ansioso olhar!
Ó pobre Alma adoradora das Imagens...
XXXII – Das verdades
A verdade mais nova, ela somente, existe!
Até que um dia, para os mais meninos,
Vai tomando esse aspecto, entre irrisório e triste,
Dos velhos figurinos...
XXXIII – Da beleza das almas
Se é bela a alma em si, que importa o proceder?
Com Marco Antônio, rei da sedução,
Sentiriam os Anjos mais prazer
Do que na companhia de Catão...
XXXIV – Da perfeição da vida
Por que prender a vida em conceitos e normas?
O Belo e o Feio... o Bom e o Mau... Dor e Prazer...
Tudo, afinal, são formas
E não degraus do Ser!
XXXVI – Da falsidade
Foi tudo falso, o que ela disse?
Fecha os olhos e crê: a mentira é tão linda!
Nem ela sabe que fingir meiguice
É o mais certo sinal de que te ama ainda...
***
“Espelho Mágico” – Ed. Globo, SP – 2ª Edição 2005, 6ª Reimpressão 2009
* * *
Nota: O leitor atento verificará que alguns versos foram omitidos nesta postagem. Em quase todas as postagens anteriores (dos diversos livros) registram-se ocorrências idênticas. Contudo, esses versos, sonetos, crônicas e demais textos de Quintana, já se encontram publicados nas postagens antigas, de modo que ao clicar nas tags dos títulos desses livros, toda a obra de Mário Quintana aparecerá reunida, embora, como decorrência, fora da ordem normal.
Nas próximas postagens, daqui para a frente, não deverá ocorrer tal inconveniente.
Peço que me perdôem pelo acontecido.
Evandro
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