O poema
essa estranha máscara
mais verdadeira do que a própria face...
O quadro na parede abre uma janela
que dá para o outro mundo
deste mundo...
Um mundo isento de rumores
e de mil flutuações atmosféricas
– alheio a toda humana contingência...
Onde um momento é sempre
e o mal e o bem não têm nenhum sentido...
Mundo
em que a forma também é a própria essência.
Ó Vida
Transfixada ao muro – e que palpita,
entanto,
num misterioso, eterno movimento!
Uma folha, ai,
melancolicamente
cai!
Na bola de cristal procuro o meu futuro:
futuro tão brilhante que aos olhos me faz mal...
Não, não esse brilho fácil das girândolas,
mas uma súbita, silenciosa explosão de cores
- prenúncio da total
subversão! –
até que então o Grande Mágico
regendo o novo Caos
(... e mesmo porque nada pode ser destruído...)
até que o Grande Mágico
– afinal –
com todos os espantosos subprodutos da última Bomba H
recomponha o milagre de cada indivíduo!
Silenciosamente
sem um cacarejo
a Noite põe o ovo da lua...
Quem foi que disse que eu escrevo para as elites?
Quem foi que disse que eu escrevo para o bas-fond?
Eu escrevo para a Maria de Todo o Dia.
Eu escrevo para o João Cara de Pão.
Para você, que está com este jornal na mão...
E de súbito descobre que a única novidade é a poesia,
O resto não passa de crônica policial – social – política.
E os jornais sempre proclamam que “a situação é crítica”!
Mas eu escrevo é para o João e a Maria,
Que quase sempre estão em situação crítica!
E por isso as minhas palavras são quotidianas como o pão
[nosso de cada dia
E a minha poesia é natural e simples como a água bebida
[na concha da mão.
Aquele fiozinho d’água
Não era um rio:
Bastava-lhe ser um fio de música...
Os caminhos estão descansando...
Neste mundo, que tanto mal encerra,
não basta saber amar,
mas também saber odiar,
não só servir a paz, mas também ir para a guerra.
Seguiremos assim o próprio exemplo
de Jesus, que tanto amor pregou na Terra...,
quando Ele,
num ímpeto de cólera,
a relhaço expulsou os vendilhões do templo!
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