Triste reflexão para mães solteiras
Os
filhos são um subproduto do amor.
Da infinita solidão
Mas
só Deus – que é único, que não tem par – poderia dizer o que é a solidão.
Placas
Ah,
meu pobre Coronel Emerenciano, quem sois vós? Quem sois vós, Dona Maurília,
Fernando Ivo? Altamirando Barbosa da Silva? Quem sois vós, com todos esses
inúteis cartões de visita deixados teimosamente em cada esquina? Que vergonha,
velhinhos... Essa coisa de a gente virar rua é uma forma pública de
anonimato.
Poesia & lenço
E
essas que enxugam as lágrimas em nossos poemas como defluxos em lenços... Oh!
tenham paciência, velhinhas... A poesia não é uma coisa idiota: a poesia é uma
coisa louca!
Pequenos contos da cidade pequena
I
O
Poeta está deitado de sapatos sobre a colcha de renda de bilros – relíquia da Vovozinha.
–
... e de melhores dias – suspira o Anjo, completando-lhe o pensamento.
–
Anjo, você está cada vez mais aburguesado.
–
Essa não, menino! Eu não sou comunista...
II
Do
ferro de engomar, que se assoprava por trás, saíam faíscas como do traseiro do
Diabo. As faces de Marianinha ficavam cada vez mais afogueadas, mais lustrosas
e lindas, como as maçãs artificiais que havia no centro-de-mesa da sala de
jantar. Não sei por que estou evocando todos esses pormenores – eles não levam
a nenhum enredo notório, desculpem... Eu me aproximo como um gato, por trás.
III
O
auto que passa e a vitrina da esquina trocam um duelo de reflexos.
IV
Escarrapachadas
nas cadeiras da calçada, as comadres fazem trancinha. Nada lhes escapa. Nem um
ponto. Mas para o menino quieto que ali se acha a tiracolo das tias o grande
escândalo é a Lua, que acaba de surgir, à traição, enorme, sangrenta, assassina
– ao contrário de tudo que se esperava dela – logo ali entre as torre da
igreja.
V
Noite
alta um bêbado passa cantando a marchinha de um antigo carnaval. Tem uma voz de
vidro moído. Uma voz aguda e esfarelada de velho.
VI
Um
rodar, um estrépito de patas. Abafadamente. Mas já não se haviam sumido, há
tempo, esses carros puxados a cavalo? Sia Carolina acorda e benze-se. É a
Morte! É a Morte que passa, no seu carro fantasma, a visitar seus doentes.
Poeminho do contra
Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu
passarinho!
Eles
Eles
confundem homem famoso com tipo popular.
O ópio
Dizem
os comunistas que a religião é o ópio do povo; outros dizem que o ópio do povo
é precisamente o comunismo; se pedissem a minha opinião, eu diria que o ópio do
povo é o trabalho.
Recato
Não
gosto de estar dormindo nem de estar morto perto de ninguém.
Pergunta inocente
Por
que será que as pessoas virtuosas parece que estão sempre representando?
*
* *
(“Na Volta da Esquina” – RBS/Editora Globo,
Porto Alegre, 1979)
Um comentário:
Fiquei encntada com seu blog e quero estar sempre por aqui...Obrigada por isso!!!!!
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