O rock é o desespero,
Como se eles estivessem não apenas no fim de um século
Mas no fim do mundo e, por isso,
Berram em vez de cantar,
Pulam em vez de dançar,
Estupram-se em vez de simplesmente se amarem...
E fazem de tudo, tudo,
No seu suicídio coletivo!
O AMOR ETERNO
Dante se enganou: Paolo e Francesca
Continuariam bem juntinhos no Inferno, com pecado e tudo
Juntinhos e felizes!
Mas quem sabe se não seria este mesmo o castigo divino?
Um amor que jamais pudesse terminar...
FIM DO MUNDO?
Um homem sozinho numa gare deserta
À espera de um trem que nunca vem.
Por fim, vai informar-se no guichê da estação.
Não encontra ninguém...
NOTURNO
De noite todos os meus pensamentos são escuros
E todas as palavras têm a letra "u".
Rude
Virtude
Cruzes!
Até mesmo, Bandeira, teu "sapo-cururu da beira do rio"!
Não me digam que o melhor é acender todas as luzes!
Odeio a luz elétrica e todas as luzes artificiais.
A gente repousa na escuridão como num ventre maternal.
E o melhor enredo para isso tudo
É me atirar de súbito num açude
Seco!
CONFISSÃO
Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém.
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios.
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!
MEMÓRIA
Em nossa vida ainda ardem aqueles velhos,
aqueles antigos lampiões de esquina
Cuja luz não é bem a deste mundo...
Porque, na poesia, o tempo não existe!
Ou acontece tudo ao mesmo tempo...
AS DESPEDIDAS
Nas despedidas
O mais doloroso é que
- tanto o que fica como o que vai embora –
Põem-se os dois a pensar:
"Meu Deus! quando é que parte o raio deste trem!"
("Velório Sem Defunto" – Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, 1990)
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