O fantasma é um exibicionista póstumo.
No princípio era o Verbo. O verbo Ser. Conjugava-se apenas no infinito. Ser, e nada mais,
Intransitivo absoluto.
Isto foi no princípio. Depois transigiu, e muito. Em vários modos, tempos e pessoas. Ah, nem queiras saber o que são as pessoas: eu, tu, ele, nós, vós, eles...
Principalmente eles!
E, ante essa dispersão lamentável, essa verdadeira explosão do SER em seres, até hoje os anjos ingenuamente se interrogam por que motivo as referidas pessoas chamam a isso de CRIAÇÃO...
Não, não te recomento a leitura de Joaquim Manuel de Macedo ou de José de Alencar. Que ideia foi essa do teu professor?
Para que havias tu de os ler, se tua avozinha já os leu? E todas as lágrimas que ela chorou , quando era moça como tu, pelos amores de Ceci e da Moreninha, ficaram fazendo parte do teu ser, para sempre.
Como vês, minha filha, a hereditariedade nos poupa muito trabalho.
Apenas, aqui e ali, uma janelinha de arranha-céu... Perdida... Enquanto, do fundo do único terreno baldio, um grilo insiste em transmitir, na sua frágil Morse de vidro, não se sabe que misteriosa mensagem às estrelas ausentes.
Essas distâncias astronômicas não são tão grandes assim: basta estenderes o braço e tocar no ombro do teu vizinho.
Desconfio que essas frases históricas foram inventadas pelos historiadores, pois como poderiam os grandes homens ter tido, todos eles, aquele mesmo estilo de dramalhão?
Tão belo como um edifício em construção contra um céu azul, só mesmo um edifício em ruínas contra o mesmo céu azul. O que importa é o céu azul.
Se eu amo a meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?
Naquele seu ímpeto ascendente e embora retombe a cada instante, ninguém, nem ele mesmo o sabe: o repuxo é o eterno recém-nascido.
Há duas espécies de livros: uns que os leitores esgotam, outros que esgotam os leitores.
Tenho pena da morte – cadela faminta – a que deixamos a carne doente e finalmente os ossos, miseráveis que somos... O resto é indevorável.
Uma alma sem mistério nem seria alma... Da mesma forma que um Deus compreensível não seria Deus.
O que chamam de nossos defeitos é o que nós temos de diferente deles. Cultivemo-los pois, com o maior carinho – esses nossos benditos defeitos.
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