com tema...
Como eu vou saber, pobre arqueólogo do futuro,
o que inquietamente procuro
em minhas escavações do ar?
Nesse futuro,
tão imperfeito,
vão dar,
desde o mais inocente nascituro,
suntuosas princesas mortas há milênios,
palavras desconhecidas mas com todas as letras misteriosamente acesas,
palavras quotidianas
enfim libertas de qualquer objeto.
E os objetos...
Os atônitos objetos que não sabem mais o que são
no terror delicioso
da Transfiguração!
Que linda estavas no dia
Da Primeira Comunhão,
Toda de branco, Maria,
Com rosas brancas na mão.
Nossa Senhora esquecia
Ao ver-te, a sua aflição,
E eu, contrito – que heresia! –
Te rezava uma oração.
Pois quando te vi, de joelhos,
Pousar os lábios vermelhos
Nos pés do Cristo, supus
Que eras Santa Terezinha,
A mais linda e mais novinha
Das esposas de Jesus!
(1923)
Eu escrevi um poema horrível!
É claro que ele queria dizer alguma coisa...
Mas o que?
Estaria engasgado?
Nas suas meias palavras havia no entanto uma ternura
mansa como a que se vê nos olhos de uma criança
doente , uma precoce, incompreensível gravidade
de quem, sem ler os jornais,
soubesse dos seqüestros
dos que morrem sem culpa
dos que se desviam porque todos os caminhos estão
tomados...
Poema, menininho condenado,
bem se via que ele não era deste mundo
nem para este mundo...
Tomado, então, de um ódio insensato,
esse ódio que enlouquece os homens ante a insuportável
verdade, dilacerei-o em mil pedaços.
E respirei...
Também! quem mandou ter ele nascido no mundo errado?
Enquanto dormes, teu Cuidado espera-te.
Despertas... e ei-lo sentado, ali, aos pés do leito.
Mas um dia desses darás um jeito nisso tudo...
Um dia, não despertas... Nunca mais!
Que fará ele, então, o teu Cuidado,
Da sua odienta fidelidade canina?
Do seu feroz silêncio? Do seu rosto sem cara?
Poemas nas pontas dos pés,
que nem os sente o papel...
Poemas de assombração
sumindo
pelos desvãos da alma...
Poemas que dançam,
rindo
que nem crianças...
Poemas de pé de pilão,
um baque
no coração.
E aqueles que desmoronam
– lentamente –
sobre um caixão!
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