NINHO DE TUIUIÚ NAS MARGENS DO RIO PARAGUAI
Dizem que a história é a mestra da vida. Mas como é que seus protagonistas incorrem sempre nos mesmos erros? Destruição. Fome. Guerra. Parece que não adiantou em nada os exemplos das reprovações anteriores. Que rede de segurança, pensamos nós, cheios de esperança, que rede de segurança nos aparará?
Quando a água desaparecer que será do homem, que será das coisas, dos verdes e bichos? Que será de Deus?
Nós devemos ir movendo as peças, sem esquecer que, embora as partidas pareçam variar ao infinito, o movimento de cada peça é único e as regras do jogo são imutáveis.
Terra, te proteja o Homem conservando sempre:
O mais puro cristal de tuas fontes!
O verde único de tuas folhas.
O ninho do Tuiuiú no Pantanal!...
PESQUEIRO EM ALTO-MAR
Pesqueiro em alto-mar
sem terra à vista!
Visão no embalo das ondas,
a luz parece que flutua...
Homens lançam fundo,
cada vez mais fundo a rede.
Seus músculos vibram
como cordas
puxando a rede pesada
de peixes em reflexos doirados.
Mil coisas pescadas no fundo do mar...
FRUTICULTURA NO CERRADO
Quando a árvore não dá frutos
Seus galhos se contorcem como mãos de enterrados vivos,
Os galhos desnudos, ressecos, sem o perdão de Deus!
E, depois, meu Deus, uma lenta procissão de retirantes...
De vez em quando um tomba, exausto à beira do caminho
Porque não há no lábio o frescor da água,
A doçura do fruto...
A CIDADE ÀS MARGENS DO RIO
Quando a água reflete todos os postes de iluminação,
sabe que esta cidade já foi pequena.
Quando vão dormir as bem-amadas, as velhas carolas,
os executivos e os catedráticos,
Quando na noite alta o último boêmio passa cantando
e as meninazinhas há muito tempo dormem,
As águas vão passando...
Na cidade quieta
Só o rio corre dentro da noite
É a vida continuando pelo mundo...
PONTE DE BLUMENAU
Entre a minha terra e a tua
Há uma ponte de aço.
Desafiando o rio,
Desafiando o vento,
Desafiando a chuva,
Desafiando tudo!
Quem é que me espera,
Que ainda me ama,
Lá do outro lado
Da ponte de aço?
CATARATAS DO IGUAÇU
Os rios são caminhos
mais antigos
que a redondeza da terra.
Eles descem horizontes
seguem sozinhos no ar.
E a bela asa em pleno vôo,
entre o partir e o chegar,
sem se importar com fronteiras.
Mas como se há de parar?
USINA DE ITAIPU
Como um riso trancado
o rio explode numa gargalhada
de luz, calor, energia!
Parece até mágica
do homem da Usina.
(E, se duvidares muito, daqui a pouco sairão voando
todas as gravatas borboletas...)
PORTO DE SUAPE
No movimento
lento
dos navios
o dia
sonolento
vai inventando variações de luz...
No cais
os guindastes, domesticados dinossauros,
erguem a carga do dia.
As coisas também querem partir.
As coisas também querem chegar.
CRIAÇÃO DE ROBALO
Os peixes dos tanques de laboratórios
Nadam com a máxima amplitude
Dentro de seus próprios limites.
O que eles não sabem
É que os espera uma volúpia nova.
A volúpia da liberdade
Nas lagoas e nos mares...
FORTALEZAS DA ILHA DE SANTA CATARINA
Os velhos marinheiros meus avós...
Para eles ainda não terminou a espantosa Era dos Descobrimentos.
Das construções com longos e intermináveis corredores
Que a lua vinha às vezes assombrar.
Nas casas novas não há lugar para os nossos fantasmas!
E se acabarem as construções antigas,
A nossa História vai ficar sem teto!...
PRAIA DO NORDESTE
Ondas dançando na praia,
Areia quente como o nosso olhar.
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar?
Nós também fazemos parte da paisagem!
O HOMEM E A ÁGUA
Deixa-me ser o que sou,
o que sempre fui,
um rio que vai fluindo.
E o meu destino é seguir... seguir para o mar.
O mar onde tudo recomeça...
Onde tudo se refaz...
* * *
“Água” / Mário Quintana; introdução de Elena Quintana e Eduardo San Martin – edição trilingüe, Português, Inglês, Espanhol – Ed. Artes e Ofícios, Porto Alegre, 2001
* * *
Ilustração: Ipanema/Porto Alegre. Foto minha. Está publicada em meu blog “RETRATOS DO MEU JARDIM”
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