V – DAS BELAS FRASES
Frases felizes... Frases encantadas...
Ó festa dos ouvidos!
Sempre há tolices muito bem ornadas...
Como há pacóvios bem vestidos.
VI – DO CUIDADO DA FORMA
Teu verso, barro vil,
No teu casto retiro, amolga, enrija, pule...
Vê depois como brilha, entre os mais, o imbecil,
Arredondado e liso como um bule!
VII – DA VOLUPTUOSIDADE
Tudo, mesmo a velhice, mesmo a doença,
Tudo comporta o seu prazer...
E até o pobre moribundo pensa
Na maneira mais suave de morrer.
IX – DA INQUIETA ESPERANÇA
Bem sabes Tu, Senhor, que o bem melhor é aquele
Que não passa, talvez, de um desejo ilusório.
Nunca me dês o Céu... quero é sonhar como ele
Na inquietação feliz do Purgatório...
X – DA VIDA ASCÉTICA
Não foge ao mundo o verdadeiro asceta,
Pois em si mesmo tem seu próprio asilo.
E em meio à humana turba, arrebatada e inquieta,
Só ele é simples e tranqüilo.
XIII – DO BELO
Nada, no mundo, é, por si mesmo, feio.
Inda a mais vil mulher, inda o mais triste poema,
Palpita sempre neles o divino anseio
Da beleza suprema...
XVI – DA DISCRETA ALEGRIA
Longe do mundo vão, goza o feliz minuto
Que arrebataste às horas distraídas.
Maior prazer não é roubar um fruto
Mas sim ir saboreá-lo às escondidas.
XVII – DA INDULGÊNCIA
Não perturbes a paz da tua vida,
Acolhe a todos igualmente bem.
A indulgência é a maneira mais polida
De desprezar alguém.
XVIII – DOS PESCADORES DE ALMAS
Se Deus, tal como Satanás, procura
As almas aliciar... por que deixa ao Pecado
Esse caminho suave, essa fatal doçura
E faz do Bem um fruto amargo e indesejado?
XIX – DOS MILAGRES
O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!
XX – DOS SOFRIMENTOS QUOTIDIANOS
Tricas... Nadinhas mil... Ridículos extremos...
Enxame atroz que em torno à gente esvoaça.
E disto, e só por isto envelhecemos...
Nem todos podem ter uma grande desgraça!
XXI – DAS ILUSÕES
Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o.
Com ele ia subindo a ladeira da vida.
E, no entretanto, após cada ilusão perdida...
Que extraordinária sensação de alivio!
* * *
“Espelho Mágico” – Ed. Globo, SP – 2ª Edição 2005, 6ª Reimpressão 2009
Ilustração: Mário no Residence Hotel, década de 1990 – Na parede, fotos de Cecília Meireles e Greta Garbo / Do Livro “Mário Quintana”, de Márcio Vassallo, pág. 25 – Ed. Moderna, SP, 2005 – Foto de Dulce Helfer
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