CARTA
Eu queria trazer-te uma imagem qualquer
para os teus anos...
Oh! mas apenas este vazio doloroso
de uma sala de espera onde não está ninguém...
É que,
longe de ti, de tuas mãos milagrosas
de onde os meus versos voavam – pássaros de luz
a que deste vida com o teu calor –
é que longe de ti eu me sinto perdido
- sabes? –
desertamente perdido de mim!
Em vão procuro...
mas só vejo de bom, mas só vejo de puro
este céu que eu avisto da minha janela.
E assim, querida,
eu te mando este céu, todo este céu de Porto Alegre
e aquela
nuvenzinha
que está sonhando, agora, em pleno azul!
BOLA DE CRISTAL
A praça, o coreto, o quiosque,
as primeiras leituras, os primeiros versos
e aquelas paixões sem fim...
Todo um mundo submerso,
com suas vozes, seus passos, seus silêncios
- ai que saudades de mim!
Deixo-te, pobre menino, aí sozinho...
Que bom que nunca me viste
como te estou vendo agora
- e é melhor que seja assim...
Deixo-te
com os teus sonhos de outrora, os teus livros queridos
e aquelas paixões sem fim!
e a praça... o coreto... o quiosque
onde compravas revistas...
Sonha, menino triste...
Sonha...
- só o teu sonho é que existe.
O UMBIGO
O teu querido umbiguinho,
Doce ninho do meu beijo
Capital do meu desejo,
Em suas dobras misteriosas,
Ouço a voz da natureza
Num eco doce e profundo.
Não só o centro de um corpo,
Também o centro do mundo!
EU ESCREVI UM POEMA TRISTE
Eu escrevi um poema triste
E belo apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!
(“A Cor do Invisível” – Editora Globo, SP, 1994)
Foto: Liane Neves
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