Foram-se abrindo aos poucos as estrelas...
De margaridas lindo campo em flor!
Tão alto o Céu!... Pudesse eu ir colhê-las...
Diria alguma se me tens amor.
Estrelas altas! Que se importam elas?
Tão longe estão... Tão longe deste mundo...
Trêmulo bando de distantes velas
Ancoradas no azul do céu profundo...
Porém meu coração quase parava,
Lá foram voando as esperanças minhas
Quando uma, dentre aquelas estrelinhas,
Deus a guie! do céu se despencou...
Com certeza era o amor que tu me tinhas
Que repentinamente se acabou!
(1934)
As Bruxas de Pano
As bruxas de pano
tão maternalmente embaladas
pelas menininhas pobres
são muito mais belas
do que as bonecas suntuosas como princesas
- orgulho das vitrinas...
Essas humildes bruxas de pano
com seus olhinhos de conta
suas bocas tão mal desenhadas a tinta
são muito mais belas porque mais amadas!
Quem ama inventa as coisas a que ama...
Talvez chegaste quando eu te sonhava.
Então de súbito acendeu-se a chama!
Era a brasa dormida que acordava...
E era um revôo sobre a ruinaria,
No ar atônito bimbalhavam sinos,
Tangidos por uns anjos peregrinos
Cujo dom é fazer ressurreições...
Um ritmo divino? Oh! Simplesmente
O palpitar de nossos corações
Batendo juntos e festivamente,
Ou sozinhos, num ritmo tristonho...
Ó! meu pobre, meu grande amor distante,
Nem sabes tu o bem que faz à gente
Haver sonhado... e ter vivido o sonho!
Ah! Os Relógios
Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...
Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida – a verdadeira –
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.
Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.
E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém – ao voltar a si da vida –
acaso lhes indaga que horas são...
(“A Cor do Invisível” – Ed. Globo, SP, 1994)
Um comentário:
"(...)nem tudo estará perdido enquanto os nossos lábios não esquecerem teu nome: Cecília..."
Querido amigo, essa sua página é linda. Linda demais. Essa música da voz de Quintana dizendo versos pra Cecília Meirelles é de uma sensibilidade somente possível nos paraísos que visitamos, vez ou outra, nos instantes de esquecimento das preocupações do mundo e plena imersão no território onde a beleza mora e é, por natureza.
Parabéns pela bela iniciativa e por compartilhar conosco essa delicadeza.
Um abraço, com carinho,
Ana
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