Blog criado no dia 15 de janeiro de 2008
O QUE HÁ NESTE BLOG?
Neste blog encontraremos esquinas, relógios, anjos e telhados. Nele haverá escadas e degraus, canções, ruas e ruazinhas, rãs, sapos, lampiões e grilos. Muitas vezes surgirão gatos, solidão, mortos e defuntos, pássaros, livros, noites e silêncios, ventos, reticências e fantasmas. E poesia, quando o Poeta abrir a sua alma e deixar que do mais íntimo do seu ser, brote em abundância todos os sentimentos que os comuns mortais escondem ou dissimulam por medo de se mostrarem como são. Então ele falará de velhos casarões, de calçadas, janelas, armários, jardins, luar e muros floridos. O Poeta contará historias da cidade que ama, de espelhos, de quartos, bondes e sapatos. De brinquedos, barcos, arroios, cataventos e guarda-chuvas. E de seus baús resgatará os retratos das princesas e das amadas, numa ciranda infindável de doces e ternas reminiscências que nos encantam e comovem enquanto brinca com suas girândolas. E a homenagem singela de um admirador ao Poeta inigualável, sempre externando candura e encantamento enquanto nos revela em plenitude a ternura de seus poemas.
07 fevereiro 2008
- XXXVIII -
A Voz Subterrânea
Às vezes ouvia-se um canto surdo,
que parecia vir debaixo da terra.
Até que os homens da superfície,
para desvendar o mistério,
puseram-se a fazer escavações.
Sim! Eram os homens das minas,
que um desabamento ali havia aprisionado.
E ninguém suspeitava da sua existência,
porque já haviam passado três ou quatro gerações!
Mas a luz forte das lanternas não os ofuscou:
eles estavam cegos
- todos, homens, mulheres, crianças.
Eles estavam cegos... e cantavam!
Os Degraus
Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos – onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...
Estranhas Aventuras da Infância
Era um caminho tão pequenino
Que nem sabia aonde ia,
Por entre uns morros se perdia
Que ele pensava que eram montanhas...
Enquanto a tarde, lenta, caía,
Aflitamente o procuramos.
Sozinho assim, aonde iria?
Porém, deixamos para um outro dia...
Perdido e só, nós o deixamos!
E quando, enfim, ali voltamos
Já nada havia, só ervas más...
Tão vasto e triste sentiste o mundo
Que te achegaste, desamparada...
E foi bem juntos que regressamos,
Ombro com ombro, a mão na mão,
Enquanto, lenta, caía a tarde
E nos espiava a bruxa negra...
E nos seguia a bruxa negra
Que hoje se chama Solidão!
Soneto Azul
Quando desperto mansamente agora
é toda um sonho azul minha janela
e nela ficam presos estes olhos,
amando-te no céu que faz lá fora.
Tu me sorris em tudo, misteriosa...
e a rua que – tal como outrora – desço,
a velha rua, eu mal a reconheço
em sua graça de menina-moça...
Riso na boca e vento no cabelo,
delas vem vindo um bando... E ao vê-lo
por um acaso olha-me a mais bela.
Sabes, eu amo-te a perder de vista...
e bebo, então, com uma saudade louca,
teu grande olhar azul nos olhos dela!
(“Baú de Espantos” – Editora Globo, RJ, 1988)
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