A Arte de Viver
A arte de viver
É simplesmente a arte de conviver...
Simplesmente, disse eu?
Mas como é difícil!
Encontro Mágico
Eis que encontro na rua uma das moças mais lindas do mundo.
Vestida simplesmente, parecia no entanto uma princesa.
Um meigo olhar, um sorriso que parecia uma aurora dentro de nós.
Não pude, não pude mais e lhe indaguei de súbito:
“Como é o teu nome, minha querida”?
E ela respondeu-me simplesmente: AUSÊNCIA.
Elegia
Esta noite eu sonhei que tinha morrido criança
E os que vieram ver o corpo do pobre menino
Apenas sentiram um cheiro evanescente de chocolate
E de balas de coco...
E uma colherinha morta no chão!
Romance
Quando, ainda menino, briguei ainda uma vez para sempre com Adalgiza
Não fui olhar a saída da missa de domingo,
Como era costume naqueles ingênuos e queridos tempos,
E fui passear pela rua da sua casa,
Ver a placa da esquina,
Despertar o costumeiro revôo dos pombos na calçada.
Não esqueci nada, nada daquilo...
Tudo tão cheio da ausência dela!
* * *
Para onde irão dar as belas cidades do sonho?
Não parecem muito diferentes das nossas...
Pois acabamos de encontrar na rua, jogando pelada,
Aqueles lindos negrinhos cor de ouro...
Mas eis que de repente cai uma chuva de pingos multicoloridos
E ficamos mascarados de tudo quanto é cor.
Não podemos deixar de rir...
Só nos assusta, querida, o vôo rasante dos pterodáctilos
Que – não se sabe como – nos sobraram dos céus antediluvianos.
Mas lá vem vindo um diretamente contra nós
E ficamos agarrados como conchas,
Como as duas conchas de uma mesma ostra
- voluptuosamente única!
Crenças
Seu Glicínio porteiro acredita que rato, depois de velho, vira morcego.
- É uma crença que ele traz da sua infância.
Não o desiludas com teu vão saber,
Respeita-lhe os queridos enganos:
Nunca se deve tirar o brinquedo de uma criança
- Tenha ela oito ou oitenta anos!
Os Velhinhos
Como os velhinhos – quando uns bons velhinhos –
São belos, apesar de tudo!
Decerto deve vir uma luz de dentro deles...
Que bem nos faz sua presença!
Cada um deles é o próprio avô
Daquele menininho que durante a vida inteira
Não conseguiu jamais morrer dentro de nós!
(“Velório Sem Defundo” – Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, 1990)
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