É costume cada um colocar sua profissão ou títulos nos cartões de visita.
Ora, quem escreve estas linhas já recebeu alguns títulos da generosidade de seus conterrâneos; escolher um só seria indelicadeza com os outros proponentes.
Quanto a mim, sempre fui de opinião que bastava o nome da pessoa, sem a vaidade de títulos secundários. Mas eis que a minha camareira fez-me cair em tentação: dá-se o caso que saiu a edição de meu livro Canções, ilustrado por Noêmia e que, ao ser noticiado por Nilo Tapecoara no “Bric-à-brac da Vida”, este o publicou com o meu retrato em duas colunas, e, abaixo do mesmo, uma notícia que assim principiava, com a primeira linha impressa em letras maiúsculas:
MÁRIO QUINTANA, CUJAS CANÇÕES etc. etc...
Ora, na manhã daquele dia, ao servir-me o café na cama, sia Balbina não podia ocultar o orgulho que lhe causava o seu hóspede e repetia:
“Cujas canções, hein, cujas canções!”
O seu maior respeito era devido, sem dúvida, à misteriosa palavra “cujas”...
E não sei se resistirei à idéia que me inspirou sia Balbina: imprimir meu cartão de visitas assim:
MÁRIO QUINTANA
Cujas Canções
A Vida Simples
Ora, Maria! O meu mundo é de temperaturas tenções fulgurações...
Eu nada tenho a ver com os sentimentos humanos!
Por que que tu não és uma vaca, Maria? Por quê
Ficaria tudo mais simples e verdadeiro...
(“Porta Giratória” – Editora Globo, 1988)
Nenhum comentário:
Postar um comentário