Decerto são meus filhinhos...
Maria, que gosto de vê-los
Cada dia maiorzinhos!
Chegou! Minha janela é um céu aberto.
E esse estado de graça quotidiana
Ninguém o tem sob outros céus, decerto!
Agora, tudo transluz... tanto mais perto
Quanto mais nossa vista se alontana
E o morro, além, no seu perfil tão certo,
Até parece em plena via urbana!
Tuas tristezas... o que é feito delas?
Tombaram, como as folhas amarelas
Sobre os tanques azuis... Que desaponto!
E agora, esse cartaz na alma da gente:
ADIADOS OS SUICÍDIOS... Simplesmente
Porque é abril em Porto Alegre... E pronto!
Que a gente fazia os deveres escolares.
Nas paredes, São Jorge e o seu cavalo branco
Nos sugeriam – que digo? – nos impunham mais graves deveres...
E ninguém notava.
Depois, a lâmpada elétrica e, nas paredes
O Marechal Deodoro a proclamar sempre e sempre a República
– e ninguém notava.
Enquanto isso, em todos os centros-de-mesa de todas as casas burguesas
Ostentava-se a grande moda das flores artificiais
– Todo o mundo notava.
(O que é a natureza! – dizia Dona Glorinha – até parecem verdadeiras!
Até que um dia um Papa decretou
que São Jorge jamais havia existido.
Agora, apenas o seu cavalo branco ainda corre solto por aí...
(Mas ninguém, ninguém se atreve a montar num cavalo fantasma).
O tarro de luz à nossa porta?
Os pequeninos vendedores de jornais
Gritam por meu nome!
Senhor,
Que buscas tu pescar com a rede das estrelas?
Três amores... Quem me deu
Tão estranha sorte assim?
Três amores, tenho-os eu
E nenhum me tem a mim!
Para que nomes? Era azul e voava...
Aparecia-me sempre nos pesadelos:
O seu silêncio era aterrorizante!
Nosso Senhor
Sobre os telhados,
Nosso Senhor, com alamares de ouro,
Tocou magistralmente os sinofones:
Súbita debandada de asas... O céu gritava de azul!
Ah, esses olhares passeando, incômodas moscas,
Sobre a calma forçada da face dos mortos.
Poupai-me, amigos, tal humilhação
Ou, senão,
Pintai sobre a minha face morta,
De orelha a orelha
Em vermelhão
Um silencioso, um debochativo sorriso de clown...
Aí podereis vir todos encarar-me então,
Curiosos, repugnantes vivos!
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