Lembras-te? O “Só”! Que vida, aquela vida...
Vivíamos os dois na Torre de Anto...
Torre tão alta... em pleno azul erguida!...
Tu deixaste a leitura interrompida...
E em vão, nos versos que tu lias tanto,
Inda procuro a tua voz perdida...
De que talvez me estejas escutando...
Porém tu dormes... Que dormir profundo!
Um por um... como folhas... despencando...
Sobre as águas tristonhas do Outro Mundo...
Acendem-se os lampiões. A noite cai.
Na praça a banda toca, de repente,
Um samba histérico... Aflições, dançai!
Olha sem ver, de tudo se distrai...
Que pena faz uma criança doente!
Como ele está... Cada passito é um ai...
Dos longos poentes que passou a esmo
A embebedar-se de Cinzento e Roxo.
Ele abre, vagamente, sobre o Nada ,
O seu olhar sonâmbulo de mocho...
Fumando... e olhando as lentas espirais...
Enquanto, fora, cantam os beirais
A baladilha ingênua das goteiras
Transformando a Cidade, mais e mais,
Nessa Londres longínqua, misteriosa
Das poéticas novelas policiais...
Onde os lampiões, com sua luz febrenta,
São sóis enfermos a fingir de luas...
E ir andando, pela névoa lenta,
Com a displicência de um fantasma inglês...
Uns tristes charcos alumia embalde,
Moram, numa infinita solidão,
As estrelinhas quietas do arrabalde...
Na sua história anônima, escondida?
São menininhas pobres às janelas,
Olhando inutilmente para a vida...
Penso às vezes o quanto essas meninas
No seu desejo triste hão de sofrer
Partem, iluminados como vitrinas,
Para a doida Cidade do Prazer!...
Da casa nova me quedar a sós,
Deixai-me em paz na minha quieta rua...
Nada mais quero com nenhum de vós!
Que andei tentando endireitar em vão...
Que lindo a Eternidade, amigos mortos,
Para as torturas lentas da Expressão!...
Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando,
Mais o rir das primeiras namoradas...
Os fios de vida que eu urdi, chorando,
Na orla negra do seu negro manto...
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