Da esquina onde ela principia...
Ruazinha perdida, perdida...
Ruazinha onde Marta fia...
Ruazinha em que eu penso às vezes
Como quem pensa numa outra vida...
E para onde hei de mudar-me, um dia,
Quando tudo estiver perdido...
Ruazinha da quieta vida...
Tristonha... tristonha...
Ruazinha onde Marta fia
E onde Maria, na janela, sonha...
Medo Medo
Medo da nuvem que vai crescendo
Que vai se abrindo
Que não se sabe
O que vai saindo
Medo da nuvem Nuvem Nuvem
Medo do vento
Medo Medo
Medo do vento que vai ventando
Que vai falando
Que não se sabe
O que vai dizendo
Medo do vento Vento Vento
Medo do gesto
Mudo
Medo da fala
Surda
Que vai movendo
Que vai dizendo
Que não se sabe...
Que bem se sabe
Que tudo é nuvem que tudo é vento
Nuvem e vento Vento Vento!
Põe um pé. Põe outro pé.
Mais depressa. Mais depressa.
Põe mais pé. Pé. Pé.
Upa. Salta. Pula. Agacha.
Mete pé e mete assento.
Que o velho agita, frenético,
O seu chicote de vento.
Mansinho agora... mansinho
Até de todo caíres...
Que o Velho dorme de velho
Sob os arcos do Arco-Íris.
e reclamando cerveja.
O Outono é um tio solteirão que mora lá em cima no sótão
e a toda hora protesta aos gritos: “Que barulho é este na escada?!”
O Inverno é um vovozinho trêmulo, com a boina enterrada até os olhos,
a manta enrolada nos queixos e sempre resmungando:
“Eu não passo deste agosto, eu não passo deste agosto...”
A Primavera, em contrapartida – é ela quem salva a honra da família! –
é uma menininha pulando na corda cabelos ao vento
pulando e cantando debaixo da chuva
curtindo o frescor da chuva que desce do céu
o cheiro de terra que sobe do chão
o tapa do vento na cara molhada!
Oh! A alegria do vento desgrenhando as árvores
revirando os pobres guarda-chuvas
erguendo saias!
A alegria da chuva a cantar nas vidraças
sob as vaias do vento...
Enquanto
– desafiando o vento, a chuva, desafiando tudo –
no meio da praça a menininha canta
a alegria da vida!
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