EU FAÇO VERSOS COMO OS SALTIMBANCOS
Eu faço versos como os saltimbancos
Desconjuntam os ossos doloridos.
A entrada é livre para os conhecidos...
Sentai, Amadas, nos primeiros bancos!
Vão começar as convulsões e arrancos
Sobre os velhos tapetes estendidos...
Olhai o coração que entre gemidos
Giro na ponta dos meus dedos brancos!
“Meu Deus! Mas tu não mudas o programa!”
Protesta a clara voz das Bem-Amadas.
“Que tédio!” o coro dos Amigos clama.
“Mas que vos dar de novo e de imprevisto?”
Digo... e retorço as pobres mãos cansadas:
“Eu sei chorar... Eu sei sofrer... Só isto!”
PARA ANTÔNIO NOBRE
Contigo fiz, ainda em menininho,
Todo o meu Curso d’Alma... E desde cedo
Aprendi a sofrer devagarinho,
A guardar meu amor como um segredo...
Nas minhas chagas vinhas pôr o dedo
E eu era o Triste, o Doido, o Pobrezinho!
Amava, à noite, as Luas de bruxedo,
Chamava o Pôr-de-Sol de Meu Padrinho...
Anto querido, esse teu livro “SÓ”
Encheu de luar a minha infância triste!
E ninguém mais há de ficar tão só:
Sofreste a nossa dor, como Jesus...
E nesta Costa d’África surgiste
Para ajudar-nos a levar a Cruz!...
ESSES INQUIETOS VENTOS ANDARILHOS
Para F. Soares Coelho
Esses inquietos ventos andarilhos
Passam e dizem: “Vamos caminhar.
Nós conhecemos misteriosos trilhos,
Bosques antigos onde é bom cismar...
E há tantas virgens a sonhar idílios!
E tu não vieste, sob a paz lunar,
Beijar os teus entrefechados cílios
E as dolorosas bocas a ofegar...”
Os ventos vêm e batem-me à janela:
“A tua vida, que fizeste dela?”
E chega a morte: “Anda! Vem dormir...
Faz tanto frio... E é tão macia a cama...”
Mas toda a longa noite inda hei de ouvir
A inquieta voz dos ventos que me chama!...
MINHA MORTE NASCEU QUANDO EU NASCI
Para Moysés Vellinho
Minha morte nasceu quando eu nasci.
Despertou, balbuciou, cresceu comigo...
E dançamos de roda ao luar amigo
Na pequenina rua em que vivi.
Já não tem mais aquele jeito antigo
De rir e que, ai de mim, também perdi!
Mas inda agora a estou sentindo aqui,
Grave e boa, a escutar o que lhe digo:
Tu que és a minha doce Prometida,
Nem sei quando serão as nossas bodas,
Se hoje mesmo... ou no fim de longa vida...
E as horas lá se vão, loucas ou tristes...
Mas é tão bom, em meio às horas todas,
Pensar em ti... saber que tu existes!
* * *
“A Rua dos Cataventos” – Editora da Universidade Federal RS, Porto Alegre, RS, 1992
* * *
Ilustração – A foto original pertence ao site "PAPO DE BOTEQUIM". A que está publicada, acima, foi escaneada, editada e redimensionada por mim.
Evandro
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