Blog criado no dia 15 de janeiro de 2008
O QUE HÁ NESTE BLOG?
Neste blog encontraremos esquinas, relógios, anjos e telhados. Nele haverá escadas e degraus, canções, ruas e ruazinhas, rãs, sapos, lampiões e grilos. Muitas vezes surgirão gatos, solidão, mortos e defuntos, pássaros, livros, noites e silêncios, ventos, reticências e fantasmas. E poesia, quando o Poeta abrir a sua alma e deixar que do mais íntimo do seu ser, brote em abundância todos os sentimentos que os comuns mortais escondem ou dissimulam por medo de se mostrarem como são. Então ele falará de velhos casarões, de calçadas, janelas, armários, jardins, luar e muros floridos. O Poeta contará historias da cidade que ama, de espelhos, de quartos, bondes e sapatos. De brinquedos, barcos, arroios, cataventos e guarda-chuvas. E de seus baús resgatará os retratos das princesas e das amadas, numa ciranda infindável de doces e ternas reminiscências que nos encantam e comovem enquanto brinca com suas girândolas. E a homenagem singela de um admirador ao Poeta inigualável, sempre externando candura e encantamento enquanto nos revela em plenitude a ternura de seus poemas.
22 janeiro 2008
- XXVIII -
O Milagre
Dias maravilhosos em que os jornais vêm cheios de poesia... e do lábio do amigo brotam palavras de eterno encanto... Dias mágicos... em que os burgueses espiam, através das vidraças dos escritórios, a graça gratuita das nuvens...
Epígrafe
As únicas coisas eternas são as nuvens...
Puríssima
As admiráveis instalações sanitárias que há na lua! Tudo branco, tudo polido, tudo limpinho. Jorros dágua. Frescor. Alívio. Os anjos que o digam! Pois só aos anjos é permitido servirem-se do nosso higiênico satélite para as suas ablusões e necessidades...
Objetos Perdidos
Os guarda-chuvas perdidos... aonde vão parar os guarda-chuvas perdidos? E os botões que se desprenderam? E as pastas de papéis, os estojos de pince-nez, as maletas esquecidas nas gares, as dentaduras postiças, os pacotes de compras, os lenços com pequenas economias, aonde vão parar todos esses objetos heteróclitos e tristes? Não sabes? Vão parar nos anéis de Saturno. São eles que formam, eternamente girando, os estranhos anéis desse planeta misterioso e amigo.
Triste Época
Em nossa triste época de igualitarismo e vulgaridade, as únicas criaturas que mereceriam entrar numa história de fadas são os mestre-cucas, com os seus invejáveis gorros brancos, e os porteiros dos grandes hotéis, com os seus alamares, os seus ademanes, a sua indiscutida majestade.
Paisagem de Após-Chuva
A relva, os cavalos, as reses, as folhas, tudo envernizadinho como no dia inolvidável da inauguração do Paraíso...
Sinais dos Tempos
Esses que, pelas estradas claras dos primeiros séculos, mendigavam e faziam pueris e deliciosos milagres, viraram agora transformistas de palco. Santos que perderam a fé, socorrem-se habilmente dos recursos inesgotáveis que a técnica hoje em dia nos proporciona, quando seria muito mais fácil um milagre... A divina simplicidade de um milagre.
(“Sapato Florido” – “Poesias”, Editora Globo, 1975)
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