Blog criado no dia 15 de janeiro de 2008
O QUE HÁ NESTE BLOG?
Neste blog encontraremos esquinas, relógios, anjos e telhados. Nele haverá escadas e degraus, canções, ruas e ruazinhas, rãs, sapos, lampiões e grilos. Muitas vezes surgirão gatos, solidão, mortos e defuntos, pássaros, livros, noites e silêncios, ventos, reticências e fantasmas. E poesia, quando o Poeta abrir a sua alma e deixar que do mais íntimo do seu ser, brote em abundância todos os sentimentos que os comuns mortais escondem ou dissimulam por medo de se mostrarem como são. Então ele falará de velhos casarões, de calçadas, janelas, armários, jardins, luar e muros floridos. O Poeta contará historias da cidade que ama, de espelhos, de quartos, bondes e sapatos. De brinquedos, barcos, arroios, cataventos e guarda-chuvas. E de seus baús resgatará os retratos das princesas e das amadas, numa ciranda infindável de doces e ternas reminiscências que nos encantam e comovem enquanto brinca com suas girândolas. E a homenagem singela de um admirador ao Poeta inigualável, sempre externando candura e encantamento enquanto nos revela em plenitude a ternura de seus poemas.
17 janeiro 2008
- XIV -
Os Arroios
Os arroios são rios guris...
Vão pulando e cantando dentre as pedras.
Fazem borbulhas dágua no caminho: bonito!
Dão vau aos burricos, às belas morenas,
curiosos das pernas das belas morenas.
E às vezes vão tão devagar
que conhecem o cheiro e a cor das flores
que se debruçam sobre eles nos matos que atravessam
e onde parece quererem sestear.
Às vezes uma asa branca roça-os, súbita emoção
como a nossa se recebêssemos o miraculoso encontrão
de um Anjo...
Mas nem nós nem os rios sabemos nada disso.
Os rios tresandam óleo e alcatrão
e refletem, em vez de estrelas,
os letreiros das firmas que transportam utilidades.
Que pena me dão os arroios,
Os inocentes arroios!...
A Nossa Canção de Roda
A nossa canção de roda
tinha nada e tinha tudo
como a voz dos passarinhos
- mas que será que dizia?
A nossa canção de roda
Era boba como a lua.
Mas a roda dispersou-se,
cada qual perdeu seu par...
Agora,
nossos fantasmas meninos
talvez a cantem na lua...
talvez que junto a algum leito
a morte esteja a cantar
como quem nana um filhinho...
A nossa canção de roda
tinha nada e tinha tudo:
era
uma girândola de vozes
chispando
mais lindas do que as estrelas.
Era uma fogueira acesa
para enganar o medo, o grande medo
que a Noite sentia
da sua própria escuridão.
(“Baú de Espantos” – Ed. Globo, 1988)
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