Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso nem porto.
Alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Eu fiz um poema
Eu fiz um poema belo e alto
como um girassol de Van Gogh,
como um copo de chope sobre o mármore de um bar,
que um raio de sol atravessa.
Eu fiz um poema belo como um vitral, claro como um adro...
Agora não sei que chuva o escorreu.
Suas palavras estão apagadas,
alheias uma à outra como as palavras de um dicionário.
Eu sou como um arqueólogo decifrando as cinzas de uma cidade morta.
O vulto de um velho arqueólogo curvado sobre a terra...
Em que estrela, amor, o teu riso estará cantando?
A Oferenda
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos...
Trago-te estas mãos vazias
que vão tomando a forma do teu seio.
(“Esconderijos do Tempo”, Ed. LP&M, 1981)
Nenhum comentário:
Postar um comentário