Dentro da noite sinto-me às vezes pula-pulando ao som do batuque
Como se não tivesse nunca quebrado a minha perna esquerda...
E tudo vai fantasticamente como nesses desenhos animados
- salvo quando me sinto bobamente flutuando no espaço...
Ah! mas não há nada mais fantástico
Do que esta simples mesinha de pinho
Onde sempre me confesso com divertida emoção!
Inquietude
Esse olhar inquisitivo que me dirige às vezes nosso próprio cão...
Que quer ele saber que eu não sei responder?
Sou desse jeito... Vivo cercado de interrogações.
Dinheiro que eu tenha, como vou gastá-lo?
E como fazer para que não me esqueças?
(ou eu não te esqueça...)
Sinto-me assim, sem motivo algum,
Como alguém que estivesse comendo uma empada de camarão sem camarões
Num velório sem defunto...
Eu conduzo minha poesia como um burro-sem-rabo
Nesta minha Porto Alegre de incríveis subidas e descidas.
Suo como o Diabo.
E desconfio
Que os meus melhores poemas terão caído pelo caminho...
Mas como saber quais são?!
Alguém por acaso os pegará do chão
E vai ficar pensando que o espantoso achado
Pertence a ele... unicamente a ele!
Orquestra
A coisa mais solitária do mundo é um solo de flauta.
Em compensação a tua cabeça está cheia de borboletas estridulas
Mas eu deixo tombar das minhas mãos o pandeiro de guizos
E, na verdade, o que eu tenho é uma alma de violoncelo
- grave, profunda, triste...
(“Velório sem defunto” – Ed. Mercado Aberto, 1990)
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